Fé sob fogo: a situação difícil e a resiliência dos cristãos sudaneses em tempos de guerra.

Rafat Samir, Secretário-Geral da Aliança Evangélica do Sudão e Presidente do Conselho da Comunidade Evangélica do Sudão, foi recentemente entrevistado pela Hope TV Kenya sobre a situação do cristianismo no Sudão. Ele compartilhou reflexões sinceras sobre o sofrimento e a resiliência dos cristãos no Sudão em meio à guerra em curso. O episódio apresentou uma conversa comovente e reveladora sobre o profundo sofrimento, a fé, a resiliência e os desafios constantes enfrentados pelos cristãos no Sudão, especialmente em meio à guerra atual.

Contexto e Diversidade do Sudão

Samir descreveu o Sudão como um país que outrora foi reconhecido como o maior da África e marcado por uma significativa diversidade cultural e étnica, com inúmeras línguas, tradições e tons de pele representados em sua população. No entanto, ele observou que décadas de rígido domínio islâmico suprimiram essa diversidade e impuseram severas restrições à liberdade religiosa, particularmente para os cristãos.

Essas políticas alimentaram longos períodos de instabilidade, incluindo uma guerra civil de 25 anos com a região sul, que mais tarde se tornou o Sudão do Sul em 2011, mais de duas décadas de conflito em Darfur e repetidos deslocamentos internos. Embora a revolução de 2019 tenha gerado esperanças de reforma democrática, o golpe militar de 2021 interrompeu a transição. Em 2023, uma guerra em grande escala eclodiu entre as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (RSF), aprofundando a turbulência no país.

A crise atual no Sudão

Na entrevista, Samir descreveu uma grave emergência humanitária. Mais de 13 milhões de sudaneses foram deslocados, com 6 milhões vivendo agora como refugiados em outros países. Milhões de outros permanecem dentro do país sem acesso a alimentação adequada, cuidados médicos ou abrigo estável.

As crianças enfrentam uma vulnerabilidade extrema, muitas fora da escola, órfãs ou em risco de recrutamento forçado por grupos armados. As famílias continuam a fugir da violência — às vezes várias vezes — frequentemente acabando em acampamentos improvisados e inseguros, construídos com galhos, lonas ou roupas descartadas.

Rafat acrescentou que,

“A igreja abriu todas as escolas, até mesmo as próprias igrejas, para servirem de abrigo para os deslocados. Abrimos nossos corações e compartilhamos até os poucos recursos que temos. Tentamos preparar comida para essas pessoas deslocadas. Tentamos proteger as crianças do trauma da guerra e preservar a esperança em um futuro novo, não afetado pelo ódio e pela escuridão da guerra.”

Samir enfatizou que algumas famílias sobrevivem com recursos mínimos, como água salgada, trigo ou ração animal. Apesar da gravidade da crise, ele afirmou que a atenção internacional continua limitada, com muitos fora da região desconhecendo o conflito ou o descartando como um mero confronto entre facções rivais. A falta de cobertura adequada da mídia fez com que muitos sudaneses se sentissem abandonados.

As lutas dos cristãos no Sudão

Segundo Samir, a minoria cristã do Sudão continua a enfrentar discriminação e pressão de longa data, particularmente sob governos islamistas anteriores que desencorajavam a identidade cristã. Muitos fiéis, disse ele, foram forçados a mudar de nome, ocultar sua fé ou suportar a perda de igrejas devido a demolições e confiscos por parte do Estado.

O conflito atual intensificou esses desafios. Há relatos de que ambas as facções armadas demonstram hostilidade em relação às comunidades cristãs, deixando as famílias com opções limitadas para uma realocação segura. Em muitas áreas, os cristãos enfrentam rejeição ou assédio por parte das comunidades vizinhas.

Pastores e líderes religiosos enfrentam dificuldades significativas para ministrar às suas congregações, visto que reuniões cristãs públicas e estudos bíblicos são proibidos ou representam riscos. Muitos fiéis agora praticam seus cultos em segredo. Apesar dessas condições, Samir relatou que a fé da comunidade cristã permanece firme.

A resposta da Igreja no Sudão

Samir destacou vários exemplos de igrejas locais que se mobilizaram para apoiar os afetados pelo conflito. Muitas igrejas abriram suas instalações para abrigar famílias deslocadas, oferecendo comida, água e roupas a pessoas de todas as origens.

Grupos cristãos estão desenvolvendo programas de pequena escala com o objetivo de ajudar crianças a lidar com traumas e promover a paz e a reconciliação em suas comunidades. Samir afirmou que esses atos de compaixão tiveram um impacto notável, levando pessoas não cristãs a questionarem por que as igrejas continuam a ajudar a todos, mesmo em momentos difíceis. Ele acrescentou que alguns indivíduos se converteram ao cristianismo após testemunharem essa generosidade.

Como os cristãos sobrevivem espiritualmente ao sofrimento

Samir afirmou que, em meio ao perigo e à escassez, os cristãos sudaneses continuam a encontrar força na sua fé. Apesar da falta de itens básicos, muitos se reúnem para cantar, orar e apoiar uns aos outros. Ele comparou a perseverança deles ao sofrimento de Cristo, expressando a crença de que Deus pode transformar a dor em esperança.

Segundo ele, a oração central deles é simplesmente: "Senhor, ajuda-nos a elevar os nossos olhos a Ti".

Como o Quênia e a Igreja Global podem ajudar

Samir expressou gratidão ao Quênia por acolher refugiados sudaneses e oferecer apoio por meio de sua forte comunidade cristã. No entanto, afirmou que mais assistência é necessária. Ele fez um apelo às igrejas e parceiros no Quênia e em todo o mundo para que orem pela paz, ajudem a aumentar a conscientização global sobre a crise e defendam soluções políticas.

Ele também incentivou o apoio material e espiritual às famílias deslocadas, incluindo alimentos, água, abrigos temporários e aconselhamento psicológico para lidar com o trauma. Observou que mesmo uma assistência modesta pode aliviar significativamente as dificuldades diárias daqueles afetados pela guerra.

Sinais de esperança e histórias de sucesso

Apesar do conflito em curso, Samir relatou exemplos de esperança e transformação. Algumas comunidades ficaram profundamente comovidas pela compaixão demonstrada pelos cristãos. Refugiados encontraram bondade em igrejas no Quênia e em outras nações.

As crianças continuam a adorar com alegria em meio às adversidades, e as famílias estão descobrindo uma fé renovada. Samir acredita que Deus está agindo mesmo nas circunstâncias mais sombrias para amolecer os corações e inspirar mudanças. Ele permanece confiante de que o Sudão pode se recuperar.

Mensagem final

Samir encerrou a entrevista com um apelo para que o Sudão não seja esquecido. Ele agradeceu ao Quênia e a outros países que demonstraram apoio e enfatizou o princípio bíblico de que “quando uma parte do corpo sofre, todo o corpo sofre”. Ele expressou a esperança de que Deus reconstruirá o Sudão de acordo com Seus propósitos, acreditando que o povo sudanês foi preservado por uma razão significativa.

Este episódio oportuno chama a atenção para a grave crise humanitária e espiritual do Sudão — marcada por guerra, deslocamento, fome e perseguição — e destaca a fé inabalável dos cristãos sudaneses. Rafat Samir compartilha relatos de fiéis que continuam a servir suas comunidades com compaixão, apesar do perigo e das perdas. Ele exorta a igreja global a orar, oferecer apoio e defender a paz, expressando fé de que Deus pode trazer restauração mesmo em meio ao profundo sofrimento. Portanto, continuemos a orar, contribuir e defender o cristianismo no Sudão.